69 mil pessoas no Parque da
Bela Vista, diz a organização. Joss Stone conquistou pela simpatia, Bryan Adams
recebido com emoção. Stevie Wonder espalhou amor em Portugal.
Stevie Wonder e Bryan Adams
são os nomes mais fortes do cartaz do quarto dia de Rock in Rio Lisboa. Fique
atento a esta notícia para ler a reportagem BLITZ em atualização permanente.
Palco Mundo
Stevie Wonder
Bryan Adams
Joss Stone
The Gift
Palco Sunset
Ana Free + The Monomes
Amor Electro + Moska
Luís Represas & João Gil +
Jorge Palma
Los Pericos
Eletrónica
Masters at Work
("Little" Louie Vega & Kenny "Dope" Gonzales)
The Martinez Brothers
Johnwaynes Live
Miguel Rendeiro
DJ Poppy
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18h53 - Afinal as nuvens e a
chuva parecem estar cada vez mais longe. O sol brilha no Parque da Bela Vista e
já entraram mais de 33 mil pessoas no recinto, assegura a organização. A
diferença etária relativamente a ontem é notória: hoje será provavelmente o dia
mais familiar da edição deste ano do Rock in Rio Lisboa. Os portugueses The
Gift vão ter honras de abertura do Palco Mundo. O concerto inicia-se em menos
de 10 minutos, mas o público aguarda com mais fervor Bryan Adams e Stevie
Wonder, como se pode ver nesta reportagem da SIC Notícias.
20h21 - Joss Stone sobe ao
palco dentro de momentos - acabámos de a ver descalçar os sapatos nos vídeos de
bastidores que antecedem o concerto -, mas os Gift já ajudaram a aquecer os
ânimos. O concerto desta tarde marcou o regresso aos palcos da banda de Sónia
Tavares e Nuno Gonçalves, depois de uma pausa de meses justificada com motivos
pessoais: "Tive um bebé", explica a vocalista a dada altura, logo
brindada com palmas. Coloridos, os Gift deram início a um concerto em registo
best of com "Driving You Slow", que rapidamente provocou reações
entre a plateia já muito bem composta.
Em forma, mas visivelmente
menos enérgica, a vocalista puxou pelo público do Rock in Rio e agradeceu-lhe
por ter vindo mais cedo para assistir ao concerto. Recorde-se que a banda tocou
no palco do festival na edição brasileira, no Rio de Janeiro, no ano passado.
Balões gigantes recuam até
Explode com o colorido "RGB", mas o público reagiu melhor às baladas
e "Fàcil de Entender" e o mais recente "Primavera"
(dedicado por Nuno Gonçalves "a uma grande vocalista e agora também uma
grande mãe") tornaram-se facilmente os pontos altos de um concerto que
também foi lá atrás buscar "OK Do You Want Something Simple?", o
gingão "Question of Love" e o hino "Music", que encerrou
com chave de ouro.
20h30 - Gostava de ter uma
tatuagem mas não gosta de agulhas? Não há problema: na Cidade do Rock pode
comprar umas mangas coloridas (de tecido que aparenta semelhanças com o das
collants) que simulam o efeito da "tattoo". Terá, é claro, o problema
de, depois, ostentar nos braços as mesmas imagens que meio mundo, mas a
originalidade, já percebemos, não é para aqui chamada.
À hora do jantar, qualquer sítio
é bom para um piquenique improvisado: que o digam os espectadores que
"estacionam" junto aos caixotes do lixo e da reciclagem para, para
relativo horror de almas mais sensíveis como as nossas, usá-los como mesa de
refeição. A pizza familiar é uma escolha popular.
No Palco Sunset, que ao longo
dos últimos dias tem acolhido encontros assaz interessantes, Jorge Palma
responde ao apelo do público e salta. A música que se ouve, em modo
especialmente livre e ébrio, é "Encosta-te a Mim", um dos momentos
altos do concerto que juntou, ao pôr do sol, Palma a João Gil e Luís Represas .
Apesar das evidentes dificuldades para acertar com as letras de canções
incontornáveis como "Portugal, Portugal" - a hesitação dá lugar a um
"solo de ferrinhos" por parte do bem disposto João Gil - a plateia
rende-se aos encantos boémios de Palma. "Já valeu a pena!", exclama
um dos vários jovens que, com a partida do cantor, abandonam também o Sunset.
No final da atuação conjunta,
Represas, Gil e Palma (que regressaria para cantar uma música "escrita em
1800, mas ainda atual", a "Canção da Fome", dos Trovante),
contaram ainda com a participação pujante do grupo brasileiro de percussão
Toque de Classe. No geral, o som esteve poderoso e o entusiasmo dos músicos, que
protagonizaram vários momentos de galhofa, foi evidente. "Loucos de
Lisboa", da Ala dos Namorados (precedida por uma sondagem geográfica que
mostrou que, dos "forasteiros", os espectadores portuenses e das
ilhas estão em vantagem), ou a bela "125 Azul", com coro popular atinado
e emocionado, mostraram a raça de que se faz a obra destes veteranos.
21h40 - A britânica Joss Stone
acaba de abandonar o palco Mundo depois de brindar o público lisboeta com perto
de uma hora de concerto. Envergando um vestido lilás vaporoso - e mais bonita a
cada ano que passa - a artista agarrou a plateia desde o início com um dos seus
maiores trunfos: a simpatia, como tinha feito há quatro anos naquele mesmo
palco. A proximidade com os fãs é sempre grande, mesmo quando Stone não se
aproxima fisicamente deles (e a verdade é que não se coibe de o fazer).
Também não interessa que os
êxitos tenham ficado todos guardados para o final do espetáculo. A britânica
tem uma voz suficientemente poderosa para impedir o público de esmorecer.
"Temos novas canções para vocês", exclama Stone antes de cantar
"Stoned Out of My Mind". "Vamos testá-las e depois vocês
dizem-nos o que acham, ok?": a reação não terá sido a mais entusiasta, mas
também ninguém parece ter reclamado. Para trás, tinham ficado
"Karma", do mais recente LP1 , e "Big Ol' Game", temas que
deixaram a nu a soul que a move.
O alinhamento prosseguiu com
dois medleys, nos quais Stone agitou com "Don't Cha Wanna Ride", uma
versão de "You Got the Love", sucesso dos anos 80 também regravado
por Florence + The Machine, e "Put Your Hands on Me". Já na reta
final, "Fell in Love with a Boy", a versão do tema dos White Stripes
que a deu a conhecer ao mundo, voltou a injetar ânimo num público que depois
fica com ela, sem largar, com o gingão "You Had Me" e, a encerrar, o
sentido "Right to be Wrong", já com a multidão em polvorosa. Bryan
Adams já está em palco, de guitarra em riste.
22h10 - Não tem muito por onde
falhar, um concerto de Bryan Adams num festival como o Rock in Rio: perante uma
multidão a perder de vista, o canadiano que passou parte da juventude em
Portugal faz do seu espetáculo um desfile confiante de êxitos sobejamente
conhecidos de todos os que, com a euforia de uma primeira vez, cantam, dançam,
filmam e, quer-nos até parecer, rejuvenescem ao som de "Summer of
69", "Heaven" ou "Cuts Like a Knife".
Logo ao segundo tema,
"Somebody", a Bela Vista transforma-se numa jukebox dos anos 80, o
que tendo em conta o perfil do público deste festival - amigo dos êxitos
radiofónicos, da nostalgia e do recordar é viver - é receita certa para um
grande, grande êxito. Justiça seja feita ao sempre jovial cinquentão: Adams
sabe-a toda. Interpela o público na altura certa, fala um pouco de português
("Vem aqui!", exclama, quando chama uma fã a palco para cantar
"When You're Gone"), deixa o público cantar a plenos pulmões
(impressionante o coro de "Heaven", por exemplo) e, num festival que
muitas vezes é comparado, compreensivelmente, a um centro comercial ou a uma
feira popular, oferece um concerto quase familiar, para não dizer intimista.
Ao longe (e neste tipo de
evento é difícil ficar perto), Bryan Adams está igualzinho ao rapaz de voz
rouca que muitos terão conhecido pela capa de Reckless (1984); salta e percorre
o palco com uma agilidade que faz inveja aos nossos joelhos cansados e, acima
de tudo, dá aos fãs aquilo que eles querem ouvir: uma coleção generosa de
canções que obedecem a uma ideia simples de verso-refão, coroadas por melodias
memoráveis, contando histórias de "rapaz conhece rapariga" que nunca
acabam demasiado mal. Dito assim parece simples, mas "a brincar" a
brincar Bryan Adams conseguiu aquela que foi, talvez, a maior rendição popular
deste Rock in Rio, superando até a euforia causada pelos Marron 5.
A transmissão televisiva,
dizem-nos as folhas de palco, começa com "18 Til I Die", já o
espetáculo vai sensivelmente a meio e o público está mais do que aquecido.
"Bryan! Bryan! Bryan!" é o coro espontâneo que se faz ouvir nesta
altura, num cenário com muitas bandeiras portuguesas, brasileiras, espanholas e
canadianas, e zero por cento de tristeza pela derrota da seleção nacional. No
seu jeito desanuviado de canção "estrada fora", "Back To
You" - Adams na guitarra acústica, multidão ao rubro - é mais um dos
grandes momentos da noite; e quem tiver ligado a televisão nesta altura, fica a
pensar que o concerto não teve pontos baixos, o que é praticamente verdade.
Além da chamada a palco de uma fã desenvolta, que se veio a perceber ser a
cantora e atriz Vanessa Silva, uma das imagens que ficarão na memória do
público é, certamente, a emoção marejada de "Summer of 69" (segundos
os estudos da organização, a favorita de 63% dos que vieram à Bela Vista hoje).
Logo a seguir, nas preferências do público, deve aparecer "Everything I Do
(I Do It For You)", que nos lembrou as incontáveis semanas em que o vídeo
de Kevin Costner de collants de malha ocupou o "prime time" do Top
Mais. Estávamos em 1992 e, desde então, muita música foi feita. Mas nesta noite
celebram-se os grandes êxitos de Bryan Adams, por uma plateia que faz da
memória paixão (e, consequentemente, mostra um desapego considerável pela
novidade: quantos dos cabeças de cartaz dessa edição tiveram sucessos nos
últimos anos? Lembramo-nos dos Maroon 5 e pouco mais).
Com um repertório que os anos
não esquecem (mas também não renovam) e uma presença afável e cativante, Bryan
Adams foi, certamente, satisfeito e reconfortado para o quarto de hotel ou
avião, e deixou os fãs da Bela Vista com um sorriso de orelha a orelha. Não se
lhe pede mais nada.
01h15 - Só alguém com muito
carisma pode pôr dezenas de milhares de pessoas (70% das quais vieram ao
festival acompanhados pela família, diz a organização) a entoar, durante quase
tanto tempo quanto dura um solo de Lenny Kravitz, a expressão "so
sweet", para depois dar graças a Deus por estar vivo e louvar o poder que
os jovens têm para mudar o mundo. É isto, um misto de festim soul-funk e
"palestra" pregadora, um concerto de Stevie Wonder: o primeiro em
Portugal da sexagenária lenda da música americana.
Acompanhado por uma máquina
poderosa de ritmo, capaz de fazer abanar ancas recinto fora já bem depois da
uma da manhã, Stevie Wonder começou o concerto de pé, tocando na sua keytar, transitando,
depois da tal versão para "How Sweet It Is (To Be Loved By You)",
popularizada por Marvin Gaye, para o piano elétrico. O que nunca se alterou, ao
longo das cerca de duas horas de concerto, foi a sua boa disposição
contagiante, que o leva a interpelar os muitos espectadores (a organização fala
em 69 mil pessoas no recinto) das mais variadas formas. Um "hello"
repetido várias vezes, por brincadeira, descamba em citação de Doors
("Hello, I love you, won't you tell me your name?"); há uma
mini-versão de "Garota de Ipanema" à harmónica, bem como oportunidade
para pôr a plateia a cantar "Você abusou, tirou partido de mim,
abusou..." e até uma reciclagem da chuva que vai caindo, mansinha, e
inspira Wonder a dedicar uma versão amorosa de "Raindrops Keep Falling on
My Head" aos portugueses.
"Se não tiverem ninguém
em casa, pensem que eu vos amo" - foi mais ou menos isto que o homem de
Songs in Key of Life cantou então, e a mensagem fraternal repetir-se-ia amiúde
ao longo do espetáculo, sem soar falsa ou forçada. Stevie Wonder está cá para
espalhar amor, e para conduzir com elegância e descontração uma viagem pela
soul e pelo funk. Com uma obra tão eclética como marcante (são muitos os que
lhe podem chamar referência, e dois - Lenny Kravitz e Adam Levine, dos Maroon
5, até estiveram cá ontem), o norte-americano tem, contudo, a humildade e o
prazer de homenagear os seus pares. Há Marvin Gaye, mas também Michael Jackson
("The Way You Make Me Feel", cantada com gosto pela plateia), como
que a provar que a música americana negra é a música de todos e firmar
fronteiras autorais não faz sentido numa celebração tão universal.
Tocante foi também ver como
Stevie Wonder - e a sua numerosa banda, na qual milita a filha, Aisha Morris,
nos coros - mostravam estar verdadeiramente entrosados com o público e
divertidos em palco, caso o guião apontasse para "Part Time Lover",
"I Just Called To Say I Love You" (o êxito desprezado pelos
melómanos, mas o momento mais aplaudido) ou para "Master Blaster",
"Superstition" ou "Isn't She Lovely", uma das mais cantadas
em coro. Capaz de acariciar várias sensibilidades e livre dos constrangimentos
do modelo "mais uma cidade, mais um concerto em tudo igual ao
anterior", a estreia tardia de Stevie Wonder em Portugal foi, a todos os
títulos, um sucesso emocionante.
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